terça-feira, 14 de junho de 2011

Sangue

Ele alimenta a escuridão
Ele aumenta minha perdição

O cheiro de sangue se espalha
O que me atrapalha

Preciso desse sangue agora
é doce e azedo como amora

Esse tormento não passa
Apenas me devasta

A minha vítima avistei 
e agora me saciarei!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O amante da Dor

Cansei de alimentar esperanças
Até onde sei, do meu amor,
Não tenho boas lembranças

Realmente era um sofrimento aconchegante
Noites e dias pensando, calado, junto ao vazio,
Em um frio congelante ou calor escaldante

Foi um amor não correspondido
Uma perca de tempo sofrida, porém, gostosa
Sou melodramático sim, e não estou arrependido

Sinto falta dessa dor e solidão
Minha ultima amada não foi tão gentil
Nem me causava palpitação no coração

Posso parecer contraditório
Não gostar tanto do amor
Porém sinto falta de sua dor

Posso ser um mal amado
Nem quero seu amor
Mas quero sentir as gotas de vodka
Que suprirão a minha suposta dor.

sábado, 21 de maio de 2011

A última dança

I – Emoções.
O dia estava clareando quando recebi um telegrama, era uma carta formal vinda direto do batalhão onde eu servia ao exército. Eu havia sido convocado para a segunda guerra. Eu iria embarcar em cinco dias, para o grande “Dia D”.
Ao mesmo tempo em que me orgulhava, eu me preocupava. Ashley, minha namorada estava grávida e iríamos nos casar em duas semanas. Não sabia como dizer que iria para guerra. Mesmo que dissesse que minha namorada estava grávida e que iria casar, não me dispensariam. Os soldados estavam morrendo como lesmas no sal, lá na Europa. Não tinha saída, se eu fugisse me tornaria um desertor e seria preso.
            Horas de silêncio e pensamentos estavam me agonizando, eu devia encarar os fatos e ir para a guerra. E essa foi minha decisão.
            Na tarde daquele dia fui a casa Ashley. Cheguei tranquilamente, como se nada tivesse acontecido, mas meu olhar, que de minuto em minuto fixava-se pensando no momento certo de contar a minha convocação, já me entregara. Ela sabia que algo estava errado e que eu estava preocupado.
            Conversamos cerca de uma hora, mas aquela ansiedade não agonizava apenas a mim, também a preocupava. Então ela perguntou o que estava acontecendo, dizia que eu estava escondendo algo. Foi nesse momento que desabei, disse que havia sido convocado oficialmente junto a todo o batalhão para a maior batalha da guerra. Não queria preocupá-la ainda mais, então não contei de minhas mínimas chances de sobrevivência.
            Os homens do meu esquadrão haviam sido convocados também, todos estavam preocupados. Sabíamos que havia grande chance de ir para a guerra, mas agora, não se tratava de chance, era concreto. Precisávamos aproveitar nossos últimos momentos como seres humanos antes de embarcara numa viagem ao inferno. Então resolvemos fazer um encontro no batalhão um dia antes de nossa ida, onde todos os soldados poderiam levar suas famílias e namoradas ou esposas. Uma das melhores decisões tomadas naquela semana cheia de treinamentos e gritos.
            A pior semana da minha vida, treinos, tiros e suor foram a introdução ao terror que ainda viveríamos, pois era apenas um treinamento. Não dormia, tenha medo de ir à guerra e nunca mais voltar, ficar representado como apenas uma medalha de latão, enquanto meu corpo era enterrado junto a outros milhares, e o pior era o medo de morrer, não ver meu filho e não casar com minha amada.
A banda tocava uma moda da época, uma leve balada que nos agoniava cada vez mais a cada nota. Todos os convidados estavam presentes, enfim, poderia ser o penúltimo dia de vida de cada soldado.
Levantei-me e chamei Ashley para uma dança, em questões de segundos o salão era ocupado por casais contagiados por amor, preocupação ansiedade e medo. Foi a noite mais alegre e tensa da minha vida.
Ao final da noite deveríamos estar prontos para a invasão na Europa. Então, no final da tarde, todos os soldados deveriam estar em seus postos, orando, relaxando ou qualquer forma de se conter e esperar pelo amanhecer. Quando o sol estava se baixo e expondo um exuberante crepúsculo, choros, abraços, tanto de medo, quanto de orgulho dominaram o batalhão. Todos os soldados estavam se retirando e os possíveis derradeiros olhares se cruzando.
Dei o abraço mais forte, sincero e amoroso em Ashley e em meus pais. Lágrimas, que eram raras em meu rosto, logo escorriam e demonstravam todo o amor que tinha e que levaria para a eternidade se fosse necessário.
Emoções eram proibidas para soldados, mas aconteceram na hora certa, demonstraram o amor que eu sentia e nunca havia deixado expressar, pois no dia seguinte eu viria a morrer.
II – A Morte.
         A viagem foi horrível, estávamos e navios com mais de 500 homens e com capacidade apenas para 400.
            O medo tomava conta de mim quando o anuncio foi dado: “Preparem-se para a batalha, estamos à meia hora da França”. Já não tinha mais volta, peguei minha M14, meu capacete e equipamentos e me posicionei em um dos pequenos barcos blindados nos quais fomos distribuídos.
            Eu podia ver soldados vomitando, medo, raiva, nervosismo e até mesmo soldados se negando a entrar no barco. Um aperitivo do inferno que enfrentaríamos.
            Estávamos próximos à praia quando saltamos do barco e iniciávamos a invasão. As balas perfuravam as águas em minha volta, o mar já estava manchado de sangue a as sirenes tocavam. Avançávamos ao bunker alemão quando vi meu amigo de infância sendo atingido. Meus companheiros me seguravam atrás de uma barreira, mas lutei contra as mãos que me seguravam e corri em direção ao meu colega que agonizava. Disse que iria salva-lo quando senti minha coluna se deslocar e uma dor muito forte acompanhada de sangue vindo de minhas tripas, que já estavam sobre o chão. Cai.
            Vi minha vida toda passar sobre meus olhos e adormeci derradeiramente com o rosto de Ashley estampado em minha mente.

Leonardo Isso (21/05/11)

Te quaerere!

Era uma noite de quarta-feira, escura e havia muita neblina, estava voltando para minha casa quando repentinamente um homem, trajado totalmente de preto, de forma que apenas seus vermelhos olhos pudessem ser vistos, me abordou e falou:
- Te quaerere!
Eu me assustei, e como ele não me agrediu nem me atacou, continuei andando, mas agora prestava mais atenção do que nunca a cada movimento que ocorria em minha volta. Tudo que acontecia era corriqueiro, nada de especial.  Então, segui meu caminho para casa, mesmo que ainda um pouco assustado.
Quando estava chegando a meu bairro, vozes vieram em minha mente, palavras em outro idioma eram jogadas em minha cabeça, parecia latim, eram muito confusas, porém conseguia prestar atenção em uma parte que se repetia todo o momento!
Effugit dolor! Non Fujere! Te quaerere!
 (Não fuja da dor! Não Fuja! Pegaremos-Te!)
Aquelas vozes eram cheias de chiados. Neste momento, meu corpo ficou rígido, minhas pernas formigavam, não tinha controle. Minha boca não se mexia, meus pés não me obedeciam!
Fui levado por aquela estranha força até um beco, que até eu, morador do bairro, desconhecia. Era um ambiente escuro, o ar era pesado, havia uma luz central, a qual se focava sobre mim, tinha o pressentimento de algo me observava, mas na realidade não via nada. Estava louco para gritar, pedir socorro ou ajuda, mas da minha mandíbula já não tinha controle.
Uma sombra preta começava a ser materializar em minha frente, era especa, no final de sua aparição, era o homem trajado de preto, agora com seus olhos vermelhos e sem sombra nem respiração. Meu coração batia rápido, estava muito assustado.
Neste momento, voltei a sentir controle sobre minha mandíbula. Gritei:
- Socorro, alguém me ajude, me tire daqui!
Aquele homem misterioso dizia:
- Não adianta pedir socorro, você não está em seu mundo, não mais. Agora está vivo entre os mortos.
Realmente estava vivo, o meu coração batia, sentia todo o meu corpo, menos minhas pernas que ainda não se moviam. De qualquer forma, estava preso, e por mais que as palavras daquele homem me soassem verdadeiras, ainda tinha a esperança de que alguém pudesse me ouvir! Gritava desesperadamente por socorro.
Após minutos de gritos de pavor, ele me perguntou ironicamente:
- Estás com medo?
Respondi gaguejando:
-Si-ii-im!
Outra pergunta irônica ele me lançou:
- Medo do que jovem?
Eu, irracionalmente, respondi de forma irônica:
- Deste belo e aconchegante ambiente.
Então ele se virou e disse, aproveite a estadia, deu uma risada maléfica e então desapareceu nas sombras. Neste momento uma porta foi focada pela luz que me sobrepunha. Antes de atravessar a porta, peguei meu telefone celular, mas estava fora de área.
Tinha a leve intuição de que aquele ser estava apenas brincando comigo e que planejava algo maior.
Atravessei a porta e me deparei com uma mesa farta de comida e sucos. Não confiava naquele lugar, então caminhei em volta da mesa e reparei em seus detalhes, era uma mesa de madeira muito antiga e conservada, recentemente lustrada, as cadeiras eram grandes e altas, cheias de detalhes nas laterais. Mas havia algo de errado, percebi que havia um prato sujo de tempero, parecia com um tempero de frango, meio alaranjado com pequenas salsinhas e pasta de alho.
 Aproximei-me e percebi que a cadeira estava afastada, então avistei um armário que parecia estar cheio, pois a porta estava um pouco aberta, era um armário também antigo e muito detalhado, podia ser percebido que havia sido feito à mão, então decidi abrir. Um dois corpos caíram sobre mim, pulei assustado e então pude ver o que ambos estavam com comida na mão, as bocas estavam costuradas, formando um sorriso irônico, em seus corpos estava escrito com seu próprio sangue:
“Parta  fames.”
Decidi neste momento correr para uma porta que havia do outro lado do armário. Abri a porta, e já estava em uma cozinha, cheia de bancadas e extremamente apertada, era projetada para um atendimento a um restaurante, a porta atrás de mim se trancou, por isso avancei. Vi um homem vestido de cozinheiro, pensei que poderia me ajudar, porém fui até ele com cuidado, a fim de evitar um novo susto.
Quando cheguei até ele, perguntei:
- Olá, você pode me ajudar?
Ele virou com os mesmos olhos vermelhos do ser misterioso e disse:
- Com o que, meu jovem?
Desconfiado eu disse:
- Tenho que sair daqui!
Ele disse:
Non Fujere! Bem vindo ao mundo dos mortos!
E com a faca que possuía tentou me atacar, me abaixei e peguei uma faca que estava sobre a bancada que me cercava, ele não parava de me perseguir, pulava entre os balcões fugindo e ele ia atrás, então percebi que ele queria que o atacasse. Então não o fiz, deixei que ele mesmo se matasse, pulei sobre o balcão em que estava o fogão e uma panela de óleo quente, joguei o detergente que havia perto da pia sobre o balcão, e o cozinheiro, com toda a voracidade, pulou sobre o balcão, escorregou e sua cabeça mergulhou no óleo. A cena mais horrível que já vi até hoje. O rosto estava deformado, ele já não se movia, parecia estar morto, mas não tinha certeza pois lá tudo estava morto, afinal, estava no mundo dos mortos. Na face deformada era possível observar apenas uma coisa escrita que dizia:
“Parta ira”
Corri para a porta que havia ao meu lado, finalmente estava fora daquele lugar, mas também não estava em um lugar seguro, nunca havia visto aquele lugar. A atmosfera era mais pesada e sombria ainda. Eu estava com frio, medo, sozinho e em tudo parecia um pesadelo infinito.
Garotas que pela suas roupas e pelo seu vocabulário pareciam com prostitutas atravessaram a rua a minha frente. Dessa vez não ia pedir ajuda, mas uma delas me viu e resolveu vir até mim, as outras continuaram.
Ela disse:
- Você está bem? Parece assustado.
Eu com a voz tremula respondi:
- Estou, na verdade não, não sei! Ah! Preciso sair daqui.
Ela respondeu:
- Mas do que você esta falando? Vamos para o meu apartamento.
Eu pensei que finalmente o pesadelo havia acabado, mas estava perdido e não confiava na moça que me oferecia ajuda.
Fomos ao apartamento dela, que era no mesmo lugar de onde ela vinha, era um apartamento quente, mas muito bom, pequeno e ideal para duas pessoas que não ficavam em casa, apenas dormia, porém só tinha um quarto com uma cama coberta por uma manta vermelha e rosa,  e um banheiro muito limpo e organizado, mas era visível que ela era usuária de drogas. Havia uma seringa, um líquido quase vermelho mais parecia um laranja escuro, limão e uma colher especial. Não disse nada, ela era a primeira pessoa que me ajudou.
Ela disse repentinamente:
- Meus clientes geralmente não me dão prazer, mas você pode! Em troca de ajuda, você me dará prazer!
Eu nem tive tempo de responder ela me jogou na cama e começou a tirar a roupa. Finalmente senti segurança e tentei aproveitar a chance.
Foram apenas segundos e distração e ela me acertou com um soco inglês. Senti minha costela trincar, a respiração agora era difícil, mas não hesitei, segurei os braços dela, levei-a até a janela, que com o debater da moça se quebrava cada vez mais. Ela parou.
- Não era minha intenção, só queria seu dinheiro.
Respondi empurrando-a mais fortemente:
- Ah é mesmo?
Ela respondeu agora chegando perto do meu pescoço e me beijado disse:
- Sim, mas posso fazer de outra forma.
Eu apenas senti um forte impacto na minha costela machucada, ela havia me dado uma joelhada. Agora com muita dor, resisti, e finalmente a joguei pela janela. Após alguns gemidos de dor, fui verificar se ela estava “morta”, mas o corpo não estava lá. Só estava escrito:
“Parta voluptas.”
Tranquei o apartamento e deixei apenas a luz do banheiro, que não tinha janela, acesa. Apenas sentei no vaso sanitário e cochilei varias vezes, pois o sono era interrompido por pesadelos.
Por mais que estivesse cansado, e com preguiça, não podia ficar lá. Assim que me olhei no espelho uma pequena escritura apareceu em forma de vapor:
“Parta tirediness.”
Quando saí nas ruas vazias e frias, então me deparei com crianças, elas estavam com pouca roupa e tremendo, que apontavam pra mim e gritavam:
- Ei me deu seu casaco! Por favor, estou com frio.
A outro implorava por dinheiro para comprar comida para a família e para os colegas. Como ainda estava perdido e não sabia nada, disse:
- Garotos vocês sabem onde estou?
Nenhum respondeu, então ofereci:
- Dou meu casaco para quem falar.
O garoto que pedia comida falou que estávamos no mundo dos mortos, e o que pedia a roupa confirmou. Nenhuma novidade, mas aqueles garotos realmente precisavam de ajuda então. Entreguei o casaco e eles começaram a brigar pela roupa. Ignorei e pensei, “O que eu faço agora? Perdido, com a costela machucada, agora sem casaco, no frio. Estou ferrado!”
Olhei para um outdoor que havia na esquina da rua e ele dizia:
“Parta avaritia et forma.”
Neste momento, desmaiei. Acordei muito tempo depois, com fome, cansaço, e no mesmo lugar escuro, com uma luz focada em mim, com aquele homem misterioso.
Ele disse:
- Ainda tem medo?
Eu com a ultima ironia respondi:
- Medo do que?
Ele disse:
Da inveja.
Eu sem entender nada perguntei:
- Como assim?
Ele me explicou:
- Nenhum mortal que aqui entrou, saiu. Você causa inveja em todos que busquei, que tentei ensinar, da pior, porem única forma que é possível.
Interrompi:
- Mas o que eu fiz? O que é parta?
Ele continuou:
- Você venceu todos os que os mortais chamam de “pecados capitais”. Parta fames, venceu a gula. Parta ira, venceu a ira. Parta voluptas, venceu o prazer. Parta tiredness, venceu a preguiça. Parta avaritia e forma, venceu a ganância e a soberba.
Interrompi novamente:
- Mas falta uma.
Ele continuou:
- Pela sua honra e por vencer os seis pecados, o libertarei, mas até o ultimo dia de sua vida, não deves invejar, ou enfrentará a invídia. Adeus.
Neste momento, voltei para o exato lugar onde minhas pernas não me obedeciam, mas agora estava no mundo real, sentia minhas pernas, meu corpo doía e minha costela estava latejando, mas eu não ligava, estava vivo!
 Apesar de tudo, aprendi a viver sem invejar, cobiçar e sempre agir corretamente. Sei que são apenas palavras, mas não quero voltar para lá. E como lembrete todas as noites antes de dormir eu escuto a voz maligna do homem misterioso que diz:
Non invídia vel te quaerere!
 (Não inveje ou te pegaremos!)



Leonardo Isso (19/05/11)