sábado, 21 de maio de 2011

A última dança

I – Emoções.
O dia estava clareando quando recebi um telegrama, era uma carta formal vinda direto do batalhão onde eu servia ao exército. Eu havia sido convocado para a segunda guerra. Eu iria embarcar em cinco dias, para o grande “Dia D”.
Ao mesmo tempo em que me orgulhava, eu me preocupava. Ashley, minha namorada estava grávida e iríamos nos casar em duas semanas. Não sabia como dizer que iria para guerra. Mesmo que dissesse que minha namorada estava grávida e que iria casar, não me dispensariam. Os soldados estavam morrendo como lesmas no sal, lá na Europa. Não tinha saída, se eu fugisse me tornaria um desertor e seria preso.
            Horas de silêncio e pensamentos estavam me agonizando, eu devia encarar os fatos e ir para a guerra. E essa foi minha decisão.
            Na tarde daquele dia fui a casa Ashley. Cheguei tranquilamente, como se nada tivesse acontecido, mas meu olhar, que de minuto em minuto fixava-se pensando no momento certo de contar a minha convocação, já me entregara. Ela sabia que algo estava errado e que eu estava preocupado.
            Conversamos cerca de uma hora, mas aquela ansiedade não agonizava apenas a mim, também a preocupava. Então ela perguntou o que estava acontecendo, dizia que eu estava escondendo algo. Foi nesse momento que desabei, disse que havia sido convocado oficialmente junto a todo o batalhão para a maior batalha da guerra. Não queria preocupá-la ainda mais, então não contei de minhas mínimas chances de sobrevivência.
            Os homens do meu esquadrão haviam sido convocados também, todos estavam preocupados. Sabíamos que havia grande chance de ir para a guerra, mas agora, não se tratava de chance, era concreto. Precisávamos aproveitar nossos últimos momentos como seres humanos antes de embarcara numa viagem ao inferno. Então resolvemos fazer um encontro no batalhão um dia antes de nossa ida, onde todos os soldados poderiam levar suas famílias e namoradas ou esposas. Uma das melhores decisões tomadas naquela semana cheia de treinamentos e gritos.
            A pior semana da minha vida, treinos, tiros e suor foram a introdução ao terror que ainda viveríamos, pois era apenas um treinamento. Não dormia, tenha medo de ir à guerra e nunca mais voltar, ficar representado como apenas uma medalha de latão, enquanto meu corpo era enterrado junto a outros milhares, e o pior era o medo de morrer, não ver meu filho e não casar com minha amada.
A banda tocava uma moda da época, uma leve balada que nos agoniava cada vez mais a cada nota. Todos os convidados estavam presentes, enfim, poderia ser o penúltimo dia de vida de cada soldado.
Levantei-me e chamei Ashley para uma dança, em questões de segundos o salão era ocupado por casais contagiados por amor, preocupação ansiedade e medo. Foi a noite mais alegre e tensa da minha vida.
Ao final da noite deveríamos estar prontos para a invasão na Europa. Então, no final da tarde, todos os soldados deveriam estar em seus postos, orando, relaxando ou qualquer forma de se conter e esperar pelo amanhecer. Quando o sol estava se baixo e expondo um exuberante crepúsculo, choros, abraços, tanto de medo, quanto de orgulho dominaram o batalhão. Todos os soldados estavam se retirando e os possíveis derradeiros olhares se cruzando.
Dei o abraço mais forte, sincero e amoroso em Ashley e em meus pais. Lágrimas, que eram raras em meu rosto, logo escorriam e demonstravam todo o amor que tinha e que levaria para a eternidade se fosse necessário.
Emoções eram proibidas para soldados, mas aconteceram na hora certa, demonstraram o amor que eu sentia e nunca havia deixado expressar, pois no dia seguinte eu viria a morrer.
II – A Morte.
         A viagem foi horrível, estávamos e navios com mais de 500 homens e com capacidade apenas para 400.
            O medo tomava conta de mim quando o anuncio foi dado: “Preparem-se para a batalha, estamos à meia hora da França”. Já não tinha mais volta, peguei minha M14, meu capacete e equipamentos e me posicionei em um dos pequenos barcos blindados nos quais fomos distribuídos.
            Eu podia ver soldados vomitando, medo, raiva, nervosismo e até mesmo soldados se negando a entrar no barco. Um aperitivo do inferno que enfrentaríamos.
            Estávamos próximos à praia quando saltamos do barco e iniciávamos a invasão. As balas perfuravam as águas em minha volta, o mar já estava manchado de sangue a as sirenes tocavam. Avançávamos ao bunker alemão quando vi meu amigo de infância sendo atingido. Meus companheiros me seguravam atrás de uma barreira, mas lutei contra as mãos que me seguravam e corri em direção ao meu colega que agonizava. Disse que iria salva-lo quando senti minha coluna se deslocar e uma dor muito forte acompanhada de sangue vindo de minhas tripas, que já estavam sobre o chão. Cai.
            Vi minha vida toda passar sobre meus olhos e adormeci derradeiramente com o rosto de Ashley estampado em minha mente.

Leonardo Isso (21/05/11)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, sugira, e de dicas